07 dezembro, 2016

Igreja paga U$ 3 mi para resgatar 226 cristãos das mãos do Estado Islâmico

Após mais de um ano de negociações, jihadistas libertaram todos os reféns
No interior da Síria, um bispo da igreja assíria trabalhou secretamente para salvar a vida de 226 cristãos capturados pelo grupo Estado Islâmico (EI). Para devolver-lhes a liberdade, o religioso reuniu cerca de 3 milhões de dólares, recebendo ajuda do mundo todo.
Em 23 de fevereiro de 2015, jihadistas atacaram ao mesmo tempo 35 povoados cristãos, levando centenas de pessoas. A maioria vivia no vale do rio Khabur, no Norte da Síria. Poucas semanas depois, o bispo Mar Afram Athneil começou a negociar com os extremistas. O processo todo demorou mais de um ano.
Os sequestros de cristãos ocorrem desde que o EI começou a conquistar territórios no Iraque e na Síria. Contudo, vários governos se negaram a negociar com os jihadistas. A ideia de oferecer dinheiro a milícias radicais sempre gera dilemas morais, inclusive para quem não vê outra alternativa.
“Do ponto de vista moral, eu entendo. Se damos dinheiro a eles, vamos apenas alimentá-los. Sabemos que eles vão matar com esse dinheiro”, admite Aneki Nissan, que ajudou a arrecadar cerca de 100 mil dólares no Canadá.
Contudo, não se pode esquecer que havia mais de 200 vidas em jogo: “Somos minoria e temos que ajudar uns aos outros”, resume. A igreja assíria, também chamada de Igreja do Oriente pertence a um ramo do cristianismo que não está vinculado ao Vaticano, nem à Igreja Ortodoxa. Acabam sendo a minoria dentro da minoria.
Abdo Marza, um dos cristãos capturados, conta que todos achavam que iriam morrer, pois as ameaças eram constantes. Ele recebeu autorização do EI para ir até a cidade de Hassakah, a 60 km de distância e levar uma mensagem. A exigência do Estado Islâmico era muito alta. Seriam US$ 50 mil por pessoa, o que totalizaria US$ 11 milhões por todos os capturados.
O bispo Mar Afram Athneil não sabia o que fazer. Começou a contatar pessoas e logo os pedidos de doações se difundiram nas redes sociais. Cristãos assírios em diversas partes do mundo responderam. Alguns com uns poucos dólares, outros dando milhares.
Na Alemanha, o empresário Charli Kanoun convenceu o governo a receber os reféns de uma das comunidades e começou a arrecadar fundos para os demais. “Todos contribuíram. Nossa igreja abriu uma conta em Irbil, Iraque, e divulgou na internet para que todos pudessem doar”, relata.
Andy Darmoo, que vive nos arredores de Londres, procurou a Organização de Socorro ao Oriente. Ele foi uma das primeiras pessoas alertadas pelo bispo sobre o pedido de resgate. Darmoo e um punhado de assírios que viviam na Inglaterra começaram a arrecadação.
A notícia se espalhou até a Austrália, onde Nicholas al-Jeloo, professor da Universidade de Melbourne soube que seus primos estavam entre os reféns. Buscando apoio em sua igreja, viu mais de 500 pessoas doarem após ele explicar o problema.

Três reféns mortos

Em setembro de 2015, três reféns foram assassinatos. Todos vestiam os macacões laranja comum nos vídeos de execução do EI. Suas mortes foram gravadas e enviadas para Athneil. O material se espalhou e o dinheiro começou a vir em quantidades ainda maior, pois temia-se que todos fossem mortos caso o regate não fosse pago.
Aos poucos os cristãos foram sendo libertados, enquanto o dinheiro era depositado nas contas do EI. Em 26 de maio do ano passado, duas mulheres ganharam a liberdade. Dia 16 de junho, mais um homem. Em 11 de agosto, 22 pessoas ficaram livres ao mesmo tempo. A partir de setembro, as libertações passaram a acontecer com intervalos de semanas. Até que em 22 de fevereiro de 2016, os últimos capturados deixaram o cativeiro em um ônibus que saiu do território controlado pelos jihadistas. Ao todo, 226 cristãos: homens, mulheres, crianças e idosos.
Somente agora, quando muitos começam a voltar para as locais onde foram capturados pelos soldados do Estado Islâmico, a história foi revelada. Com informações CBN

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