13 agosto, 2015

PROCURAM-SE PREGADORES COMO PAULO

Por Ciro Sanches Zibordi

Paulo trabalhava de dia e de noite, até cansar, a fim de garantir seu sustento (1 Co 4.12). E, em vez de ser aplaudido — como certos pregadores que são convidados para programas de entrevistas para fazer os telespectadores rirem —, ele era injuriado, caluniado e considerado o pior tipo de pessoa do mundo. O que fazia ele diante disso? Ele não revidava, mas dizia: “somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e com a escória de todos” (v. 13). E não era um superpregador. Em diversas ocasiões, foi esbofeteado e não tinha moradia certa ou casa própria; e também passou fome, sede e nudez (1 Co 4.11; Fp 4.10-13).

Ele enfrentou a morte várias vezes. Em alguns momentos, chegou a pensar que a sua hora de partir havia realmente chegado (2 Co 1.8,9), pois passou por constantes sofrimentos e angústias por causa das igrejas e de seus membros, individualmente. Ele se preocupava tanto com eles, a ponto de lhes dizer: “em muita tribulação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho” (2.4).
Às vezes, Paulo gostava de apresentar seu curriculum vitae. Mas o que mais valorizava não era seu cabedal como fariseu e sua fama no judaísmo. Ele gostava de fazer menção das suas aflições, privações e angústias, além dos açoites, prisões, tumultos, vigílias e jejuns em prol da obra do Senhor (2 Co 6.4-10). No seu currículo constavam também os açoites recebidos dos judeus pelo menos cinco vezes! E não somente isso. Ele lembrava os seus irmãos em Cristo de que fora fustigado com varas três vezes, sofrera três naufrágios, um apedrejamento, perigos de salteadores e assassinos, etc. (11.23-29).

Muitos pregadores que querem viver como celebridades realmente não devem apreciar a vida de Paulo, que vivia sob constante ameaça de morte, sendo considerado um espetáculo para o mundo, um louco, desprezível e fraco (1 Co 4.9,10). Ao contrário dos animadores de auditório, pregadores malabaristas e milagreiros, Paulo era avesso à ideia de ter um fã-clube. E, por isso, evitava a ostentação e o emprego de linguagem rebuscada em suas ministrações, pregando somente a Cristo crucificado e evitando batizar muitas pessoas (1 Co 1.14-23; 2.1-5). Ele não queria que as pessoas se agregassem à igreja por causa de seus talentos e erudição, e sim pelo poder do evangelho (1 Ts 1.5).

O pregador Paulo passou muitas privações, tendo de trabalhar arduamente para não ser pesado às igrejas; e a responsabilidade de cuidar delas pesava constantemente sobre seus ombros. Não obstante, ele relutava em receber oferta das igrejas para não dar motivo para o acusarem de ser mercenário. “Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus?”, disse ele, ao se opor aos falsos apóstolos que exploravam a igreja de Corinto (2 Co 11.7-9). Paulo não vivia da “itinerância”, ao contrário de muitos, hoje, que reivindicam isso e até afirmam que a pregação itinerante é uma profissão como qualquer outra. Ele trabalhava para se sustentar, visto que muitos criticavam os pregadores que viviam do evangelho e diziam erroneamente que eles não tinham o direito de receber sustento da igreja (1 Co 9.1-12).

É evidente que, a despeito de pregadores e ensinadores que se prezam não exigirem cachê para expor a Palavra, bem-aventurada é a igreja que reconhece e honra os ministros do Senhor. O Mestre dos mestres, Jesus Cristo, inclusive, disse: “qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão” (Mc 9.41). Paulo se recusava a receber salário e até algumas ofertas das igrejas — mesmo sabendo que “Digno é o obreiro do seu salário” (1 Tm 5.18) — para evitar o falatório e tudo que pudesse pôr em dúvida o seu objetivo de pregar a Cristo. Quantos pregadores, hoje, estão dispostos a trabalhar para sustentar a família e se dedicar de graça, sem nada exigir, à pregação do evangelho?

Paulo era um pregador muito diferente, desapegado do dinheiro e de qualquer tipo de conforto (1 Co 9.15-18). Preocupado com a aparência do mal, tinha uma conduta irrepreensível, mantendo sob controle seus desejos carnais (vv. 25-27; 1 Ts 5.22). Ele também apresentava como motivo de glória e honra o modo como, certa vez, fugiu dos seus perseguidores em Damasco: “fui descido num cesto por uma janela da muralha; e assim escapei das suas mãos” (2 Co 11.30-33). E lutava diariamente com um doloroso espinho na carne, que o abatia, mantendo-o em constante oração e comunhão com Deus. Quando ele se sentia fraco, então estava forte, confiante no que o Senhor lhe dissera: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (12.7-10).

O pregador Paulo tomava muito cuidado para não torcer a mensagem do evangelho (Gl 1.6-8). Ele não andava com astúcia, nem procurava enganar seus ouvintes para tirar proveito financeiro deles (2 Co 4.1,2). E jamais massageou egos de crentes ou descrentes com mensagens de autoajuda. O seu compromisso era com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Ele vivia como um condenado à morte, levando em seu corpo as marcas do Senhor Jesus (Gl 6.17), bem como suportando calúnias e injúrias, sofrimentos e provações, privações e perseguições (2 Co 4.7-15). Seus pés estavam na terra, mas sua cabeça já estava no céu. Ele não priorizava riquezas, propriedades e bens. Seu alvo era a glória celestial, as coisas invisíveis e eternas reservadas aos santos e fiéis (vv. 16-18).

Como pregador itinerante, Paulo tinha compromisso com a Palavra de Deus e era cheio do Espírito (At 13-16). Ele tinha conhecimento das Escrituras, e a graça do Senhor estava sobre a sua vida. Não há como dissociar a Palavra de Deus do Deus da Palavra. Por isso, fico preocupado quando ouço pregadores dizendo que o seu compromisso com Deus está acima de seu compromisso com as Escrituras. Isso é impossível. Quem ama a Deus de verdade guarda a sua Palavra (Jo 14.23).

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