16 maio, 2011

Família: Falta de tempo faz família deixar de ser família

Atarefados demais pelo trabalho, pais estão perdendo o controle sobre os filhos. O resultado disso é sentido por toda a sociedade ao ver os indicadores de violência, uso de drogas e sexualidade desordenada. Quem sente esse reflexo é sociedade como um todo. Uma receita para reverter esse quadro é cultivar mais tempo para a família.
Aparício Meirelles é servidor público e se esforça para desenvolver todas as suas atividades nas 24 horas do dia. Dorme tarde, acorda cedo, o telefone toca o tempo todo, reuniões dentro e fora do ambiente de trabalho, relatórios. Mas se engana quem pensa que na correria do dia-a-dia ele não tem tempo para sua família. “Hoje não corro mais atrás ‘do vento’. Trabalho muito, mas não abro mão de me dedicar a minha esposa e a meus filhos”, disse.
A rotina prova isso: Aparício e sua mulher, Gleiciene, são casados há 16 anos. Ambos trabalham e dão conta de toda a rotina. Pela manhã, ela leva os filhos Israel, 13 anos, e Isabel, 8, para a escola. Buscá-los é responsabilidade do pai e seguem para almoçar juntos, por volta de 13 horas. “Eu mesmo vou para o fogão. Gosto de cozinhar”, disse ele.
À noite, quando está livre de reuniões e outros compromissos, a família está junta. É hora de papear um pouco, conferir as atividades escolares dos filhos, ver um filme ou participar de alguma atividade na igreja.
No dia que entrevistamos Aparício e Gleiciene eles estavam especialmente felizes. Vieram de uma reunião de pais na escola e receberam muitos elogios pelo comportamento e desempenho dos filhos. Fruto da boa educação que recebem e do privilégio de serem tementes a Deus.
Os Meirelles estão na contramão da grande maioria da população brasileira. A dinâmica social tem feito a família deixar de ser família. Numa época competitiva como a que vivemos, a luta por um lugar no mercado de trabalho tem feito os pais até perderem a guarda dos filhos por abandono afetivo.
Foi o que revelou uma reportagem recente do jornal A Tribuna ao demonstrar que ocorrem 20 audiências por mês sobre esse assunto apenas na 3º Vara de Família de Vitória. Os indicadores sociais deixam explícito que a família tem deixado de exercer seu papel na sociedade moderna. O mapa da violência no Brasil divulgado pelo Ministério da Justiça no dia 24 de fevereiro, revelou que a taxa de homicídios entre os jovens de 15 a 24 anos cresceu de 30 para 52,9 por 100 mil habitantes entre 1980 e 2008.
Segundo o coordenador do mapa, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, a partir da década de 1980, ocorreu o “novo padrão de mortalidade juvenil”, com aumento nas mortes por homicídios, suicídios e acidentes de trânsito.
Se morrem mais jovens, também nascem mais crianças – só que frutos de um relacionamento sexual precoce. Os especialistas em adolescência alertam: 1,1 milhão de meninas de 15 a 19 anos que dão à luz a cada ano no Brasil, cerca de 25% já têm filho. Ao contrário do que se imagina, isso não ocorre apenas entre as classes mais pobres.
Em 2010, 362 bebês de mães adolescentes nasceram nos hospitais capixabas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Apenas 19 dos 78 municípios não registram nascimentos de mães menores de 14 anos. Os municípios que registram maior número de nascimentos, na ordem, são: Serra, Cariacica, Vila Velha, Vitória.
Juventude “perdida” e sem orientação faz aumentar os indicadores sobre consumo de drogas no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de usuários só de crack está em torno de 1,2 milhão e a idade média para início do uso é 13 anos. Junto com o crack aumentam no Brasil o consumo de maconha, solvente, cocaína e o álcool entre pessoas cada vez mais jovens.
Falta de estrutura
E como vai a família? A cada quatro casamentos realizados no Brasil, um acaba em divórcio. Esse dado reflete uma realidade que tende a crescer a cada ano em todas as regiões o País. 70% dos pedidos de divórcio são feitos pelas mulheres.
Em 2008, por exemplo, os homens se divorciaram, em média, aos 43 anos. Já as mulheres tinham, em média, 40 anos. Nessa fase da vida, os adultos têm filhos pré ou já adolescentes, o que favorece o número de conflitos vividos pelos jovens por causa dos problemas decorrentes da separação dos pais.
Para abalar mais ainda as estruturas da família moderna, o homossexualismo ganha força no seio da sociedade. Segundo ONGs do segmento, a prática atinge mais de 10% da população. Cada vez mais as pessoas declaram-se homossexuais para suas famílias provocando rupturas e conflitos nunca antes imaginados entres os parentes.
Eis a família brasileira doente e que parece caminhar para o abismo. De acordo com o pastor Geraldo Lúcio Rodrigues, conferencista na área e líder da Igreja Metodista Wesleyana Central, Vila Velha, a família é a célula mais importante do tecido social. Se ela adoecer, todo o resto adoecerá. “A Igreja de Cristo precisa agir. Voltar seu olhar para a família e trabalhar dia e noite para que o projeto de Deus para a humanidade se fortaleça”.

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