24 março, 2013

PT e Bancada Evangélica: amigos ou inimigos?

Revista Veja investiga relação dúbia entre pastores políticos e as bandeiras petistas

A fundação da Frente Parlamentar Evangélica ocorreu 10 anos atrás. Em 2006, quando o Congresso foi revelado o esquema conhecido como “a Máfia das Sanguessugas”, 23 integrantes da bancada foram acusados de desviar emendas parlamentares e enriquecer com isso. Na ocasião, dez deputados eram da Igreja Universal do Reino de Deus e nove da Assembleia de Deus.
Os deputados evangélicos perderam força nas eleições daquele ano. Mas recuperam em 2010, com a atual configuração. Semanalmente eles realizam um culto no Congresso, onde os parlamentares-pastores se alternam na direção do encontro e na pregação do dia.
Desde a eleição de Marco Feliciano, que é pastor da Assembleia de Deus, para a presidência da Comissão de Direitos Humanos, muito tem se falado sobre a atuação dessa bancada. Uma mostra de que ela tem conquistado um espaço cada vez maior no debate político nacional. Atualmente, os evangélicos já são 14,2% dos deputados e 5% dos senadores.
Em muitas ocasiões eles deixam de lado as questões teológicas e se unem aos católicos, como na formação da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e contra o Aborto. Criada pelos católicos, atualmente é presidida pelo deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP). Ao total, esse movimento abarca 220 deputados e 12 senadores.
Embora pertençam a partidos diferentes, o que une os segmentos cristãos nesses casos são suas bandeiras em comum: contra a legalização do aborto, o casamento gay, a eutanásia e a liberação das drogas.
Infelizmente, entre eles existem várias denúncias de corrupção. Dentre os 73 integrantes na Câmara dos Deputados, 23 respondem a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). As acusações são por corrupção, peculato (desvio praticado por servidor público), crime eleitoral, uso de documento falso, lavagem de dinheiro e estelionato. O deputado Natan Donadon foi inclusive condenado recentemente a treze anos e quatro meses de cadeia.
João Paulo Peixoto, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), explica: “Todos os partidos têm buscado, de uma maneira geral, ter evangélicos nos seus quadros, porque é um segmento substantivo do eleitorado brasileiro. Essas religiões estão crescendo, e é claro que há interesse como massa eleitoral”. E faz uma ressalva: “Os evangélicos não estão acima do bem e do mal. Embora tenham uma pregação rígida dos valores morais, há também um outro lado que diz respeito à própria condição humana”.
João Campos (PSDB-GO), pastor da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica, admite que esse tipo de situação é constrangedora, mas inevitável: “Se tiver um processo de corrupção, é claro que incomoda. A exposição negativa pode prejudicar, mas acho que faz parte do processo”.
O mais difícil para a maioria desses deputados, que pertencem à base da presidente Dilma Rousseff, é ao mesmo tempo apoiar o governo em temas econômicos e de assistência social, mas divergir em questões que são contraditórias ao que eles creem.
Entre outras coisas, o governo petista tem como resolução oficial defender a legalização do aborto e os direitos do movimento LGBTS. Além disso, já travou lutas como as tentativas de distribuir o “kit-gay” em escolas primárias ou relaxar as penas para traficantes de drogas.
O deputado do PV, Henrique Afonso, um presbiteriano, militava no PT até 2009, quando acabou punido pelo partido por não abrir mão da oposição ao aborto. “Nós tínhamos uma cláusula de consciência quando eu entrei no PT, e isso me garantia a expressão da minha cosmovisão”, lembra. “A partir do momento em que tiraram essa cláusula de consciência e passaram a defender explicitamente a descriminalização do aborto e outras matérias associadas à bioética, eu tive de ter um posicionamento contrário.”
A ex-senadora Marina Silva, missionária da Assembleia de Deus, luta para formalizar o seu novo partido, a Rede, e voltar a disputar as eleições presidenciais em 2014. Caso seja eleita, ela será a primeira representante das igrejas protestantes a chegar ao poder máximo.
Um dos testes para a bancada evangélica neste momento é o imbróglio Marco Feliciano. Eleito com o apoio do PT, já está sendo pressionado por políticos petistas a deixar a presidência da Comissão de Direito Humanos. Caso Feliciano renuncie, algo que já avisou que não fará, já ficou claro para o país inteiro com o que precisam lidar os políticos evangélicos que contrariam interesses do governo atual.

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