Toda vez que uma emissora de televisão aborda assuntos religiosos em suas séries acaba gerando polêmica e acumulando críticas. São poucas as exceções como o recente êxito da série “A Bíblia”, que foi sucesso em todos os países onde foi exibida e deve ganhar uma continuação em breve.
A rede NBC faz mais uma tentativa em mesclar humor e religião ao lançar “Save Me” [Salve-me] como grande aposta de seu novo horário nobre noturno. Estrelada por Anne Heche, mais conhecida por seu trabalho no cinema.
Em “Save Me”, Heche interpreta Beth Harper, uma mulher que tem uma experiência sobrenatural na cozinha de casa e começa a receber mensagens de Deus que deve passar para as pessoas. Em pouco tempo ela começa a ser chamada de “profeta” quando seus avisos se cumprem.
Porém, ela resiste a desempenhar esse papel. Mesmo assim percebe que Deus deseja com isso que ela mude sua vida, até então marcada pelo abuso de álcool e drogas, um casamento fálido e o fato de ser odiada pela filha a também por seus vizinhos.
Alguns elementos do roteiro dessa série acabam comprometendo o resultado final. Principalmente por Beth não ter uma religião e não se enquadrar no que se esperaria de uma mulher cristã. Ela não conhece a Bíblia, nunca vai à igreja e suas profecias envolvem aspectos como a vida sexual de suas amigas, o que não é bem recebido por elas.
Muitas vezes debochar de Deus e de Jesus não impede que as pessoas gostem de alguns seriados que fazem isso, como os desenhos para adultos “Os Simpsons“, “South Park” e “Family Guy” [Uma Família da Pesada]. Contudo, o cancelamento das series “666 Park Avenue”, “Good Christian Bitches” e “Zero Hour” nos últimos tempos mostram que os cristãos se ofendem quando veem na telinha seres humanos fazendo isso.
Beth Harper vive em Cincinnati, numa família de classe média que tem problemas sérios com o marido e a filha. Quando ela se engasga com um sanduiche e “morre”, ao ressuscitar começa a conversar com Deus e assim passa a ser considerada louca e ninguém a leva a sério.
Nos primeiros episódios da série que já foram ao ar, ela tenta ler a Bíblia (sem sucesso), orar (algo que só consegue fazer no banheiro) e frequentar uma igreja. Ao entrar ali acaba participando do louvor mesmo sem conhecer as músicas, mas tem problemas em explicar ao pastor o que aconteceu com ela.
Quando Deus decide ir mais longe e “aparecer”, acaba sendo personificado pela atriz Betty White. Toda vez que tenta explicar como é a voz de Deus, Beth ressalta que não é “nem masculina, nem feminina”, mas a aposta da emissora em colocar Deus como uma mulher idosa parece ter acabado com as chances de Save Me agradar ao público cristão, maioria nos EUA.
Como era esperado, esses elementos geraram um pedido de boicote de grupos cristãos, como o “One Million Moms”, formado de mães de família que classificaram o show de ”blasfemo”. Eles fizeram uma campanha para que a rede NBC cancele a série e receberam o apoio de outros grupos evangélicos e de igrejas.
Quando Heche foi divulgar a série em programas de entrevista da NBC, fez questão de defender os rumos da série que ela ajudou a criar. Dizendo ter sido criada em uma família muito religiosa, ela desejou trazer elementos de sua própria vida para a telinha. Durante anos Anne Heche viveu uma relação homossexual com a atriz e apresentadora Helen Degeneres.
Certo dia, disse ter se dado conta do que estava fazendo e saiu de casa. Pouco tempo depois casou com Coley Laffoon e teve dois filhos com ele. Curiosamente, a mãe de Heche liderou um grupo evangélico dedicado a oferecer uma “terapia restauradora” que visava ajudar gays a abandonarem o homossexualismo.
Embora “Save Me” tenha atraído três milhões de espectadores em média assistindo os primeiros episódios, a queda de quase 20% a partir do terceiro mostra que não ser renovada para o ano que vem. Oficialmente a NBC não se pronunciou, mas o boicote parece ter dado resultado.
Assista ao um trecho do segundo episódio (legendado):
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