26 agosto, 2013

Jesus estava mais para Che Guevara que para Madre Teresa, defende autor muçulmano

Será essa a volta do “Jesus revolucionário”?
Todos os anos surgem dezenas de livros sobre Jesus. Muitos deles não se atem aos relatos bíblicos e buscam apresentar algo “diferente” ou “inédito”. A mais nova obra a suscitar polêmica é Zealot: the life and times of Jesus of Nazareth [Zelote: a vida e os tempos de Jesus de Nazaré]. Parte do sucesso se dá por causa de uma entrevista dada pelo autor, o iraniano Reza Aslan, à rede de TV Fox.
Lançado há um mês nos Estados Unidos, lidera pela terceira semana seguinte a lista dos mais vendidos do The New York Times e da Amazon. Deve sair no Brasil apenas no início de 2014.
O autor é um estudioso de religiões e professor de escrita criativa na Universidade da Califórnia. O grande diferencial é o fato de ele ser muçulmano, o que irritou muitos cristãos. Mas como polêmica sempre vende, ele desfruta do sucesso alcançado, mesmo não apresentando nada de novo.
Sua tese é que Jesus não foi um pacifista. Estava mais para um revolucionário que desejava expulsar os romanos da Judeia, criar um reino de Deus na Terra e sentar em seu trono. O argumento é antigo, que esteve em alta pela ultima vez nos anos 1960, impulsionado pelo movimento da Teologia da Libertação, que misturava elementos de cristianismo e marxismo. Em resumo, Jesus seria mais parecido com Che Guevara que com a Madre Teresa de Calcutá.
Aslan optou pelo termo “zelote”, para descrevê-lo. Trata-se de uma palavra derivada do aramaico e dava nome a um movimento que realmente existia nos tempos de Jesus. Era um movimento político judaico que defendia o uso da força para que o povo da Judeia expulsasse os romanos de seu território.
         grafite do jesus guerrilheiro Jesus estava mais para Che Guevara que para Madre Teresa, defende autor muçulmano
Segundo o livro, Jesus compartilhava algumas das ideias igualitárias dos zelotes e, assim que se estabeleceu numa vila de pescadores em Cafarnaum, começou a procurar seus discípulos “entre aqueles que se viram lançados à margem da sociedade, cujas vidas tinham sido interrompidas pelas mudanças sociais e econômicas que ocorriam por toda a Galileia”.
Muçulmano, o autor não reconhece a divindade de Jesus, mas o define como “um camponês analfabeto que entra em Jerusalém como o tão aguardado Messias – o verdadeiro rei dos judeus – que veio libertá-los da escravidão.”
Usando trechos isolados das narrativas dos Evangelhos, ele costura uma trama que mistura religião e política. Mais tarde, os relatos dos apóstolos deram inicio ao “longo processo de transformar Jesus de um revolucionário nacionalista judeu num líder espiritual desinteressado de questões terrenas”. Assim teria surgido o cristianismo.
O alemão Herman Samuel Reimarus (1694-1768) deu início ao movimento que se dedicava a explicar quem foi o “Jesus histórico”, o judeu que se transformou no Filho de Deus, cultuado pelos cristãos. Do outro lado, as correntes teológicas tradicionais se preocupavam em preservar o “Cristo da fé”, o Jesus da religião.
Até o século XX, a procura pelo Jesus histórico pouco revelou. Os teólogos alemães Martin Dibelius e Rudolf Bultmann reiniciaram essa busca. Eles estabeleceram critérios objetivos para determinar o que era histórico e o que não era nos relatos bíblicos. A ideia era acabar com os “mitos”. Ignoram-se os milagres e se atém apenas o que pode ser descrito pelas ciências naturais.
No início de nosso século, tem se construído o que é chamado “a terceira onda”, um ressurgimento que inclui livros, filmes e programas de TV. São utilizados métodos históricos e racionais, incluindo a análise crítica dos Evangelhos, a pesquisa arqueológica e o estudo do contexto histórico e cultural em que Jesus viveu. Não se trata apenas de um livro a mais sobre o assunto, “Zelote” pode determinar o início de uma tendência a mais, que tenta se anular tudo (ou quase) que se sabe sobre Jesus há dois mil anos.
Qual o futuro? Com cada vez mais igrejas e denominações relativizando os ensinamentos que deram sustentação ao cristianismo por séculos, ele não parece muito promissor. Com informações Revista Época.

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