18 janeiro, 2013

QUANDO O “MINISTÉRIO” ATRAPALHA A VIDA CRISTÃ


Por Samuel Toralbo
Em tempos, onde a deturpação do significado do ministério eclesiástico é alarmante, os propósitos e as motivações no ingressamento da vida ministerial são estarrecedores e preocupantes. As intenções e os propósitos equivocados podem ser gerados por inúmeras razões – através de uma cultura religiosa que interpreta crescimento espiritual, ou vida vitoriosa somente quando o individuo é chamado para o ministério eclesiástico, onde jargões como: “Um dia você também estará aqui no púlpito”, ou “Deus não te chamou para ser mais um no meio do povo, mas para se assentar aqui no púlpito em meio aos príncipes” são bastante comuns em inúmeros ajuntamentos de cristãos, descaracterizando assim o significado do discípulo de Cristo Jesus. Não é raro o crescimento da motivação ministerial simplesmente pelo fato do desejo pessoal pelo status, objetivos financeiros, ou até mesmo por falta de opções ou oportunidades na vida profissional.
De modo que, primeiramente é importante ponderar que, o ministério não é uma questão de ordem que acontece na horizontal (que parte do homem), mas antes, é uma escolha que acontece na vertical (é Deus quem chama e capacita para o serviço ministerial) – “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,” (Efésios 4.11)
O objetivo não é desestimular aqueles que foram chamados para o santo ministério, mas antes, alertar aqueles que não sendo chamado, a evitar o encantamento do “glamour ministerial” que é vendido por algumas lideranças insanas desprovidas de amor e verdade. É loucura ingressar no ministério eclesiástico sem nunca ter sido chamado por Deus para o mesmo.
O apóstolo Paulo declara: “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.” (I Timóteo 3.1), Paulo não afirma que, aquele que desejar o ministério receberá o mesmo, mas apenas diz que é um excelente desejo. E mais do que isto, em seguida Paulo expõe a lista de características que deve pautar o ministério eclesiástico, como quem diz: “Está pronto para uma vida de renuncia, perseguições, e sofrimento?”
A grande deturpação na atualidade é que a lista de considerações que encontramos em Paulo para aqueles que desejam o ministério não passa nem perto de algumas outras listas que tem sido oferecida aos novos pretendentes ao ministério cristão. Enquanto que, na listagem de Paulo o obreiro precisar ser:
- irrepreensível,
- marido de uma mulher,
- vigilante,
- sóbrio,
- honesto,
- hospitaleiro,
- apto para ensinar,
- não dado a vinho,
- não espancador,
- não cobiçoso de torpe ganância,
- moderado,
- não contencioso,
- não avarento,
- que governe bem sua casa,
- não neófito (inexperiente na caminha da fé),
- e com bom testemunho,
Na listagem de algumas “lideranças” pós moderna, o que consta como observações para a vida ministerial é:
- ser carismático,
- manter a visão da igreja em arrecadações e desafios financeiros,
- manifestar os dons espirituais,
- elegante e de boa aparência,
- atingir a meta de arrecadação mensal,
- pregar uma mensagem bacana e motivacional,
- ostentar o sucesso “espiritual” (bons carros, roupas, joias, e bens materiais), para estimular a fé dos irmãos.
- e manter sempre a imagem de um herói (super homem)
Observe a disparidade na natureza do significado do ministério cristão que acompanhava a igreja primitiva com, aquela que, paira em algumas congregações cristãs no século XXI. Recentemente perguntei a um pregador em que consistia o seu interesse em pregar o evangelho, o que logo me respondeu: “dinheiro”. De modo que, a compreensão equivocada do significado do ministério cristão, fatalmente gerará motivações pervertidas e adoecidas.
Atualmente, parece pairar no ar uma certa irresponsabilidade por parte de algumas lideranças que unge, consagra, e separa ao ministério cristão, pessoas que nunca Deus chamou para o tal oficio.
Sendo de grande importância neste momento a reflexão sobre a declaração paulina que diz: “Cada um fique na vocação em que foi chamado.” (I Coríntios 7.20). Certamente, Paulo estava querendo evitar desmandos e enganos na igreja em Corinto, desejando que os irmãos entendessem a importância de uma vida pacificada, tranquila e relevante através de Cristo Jesus, naquilo que foram chamados, não necessariamente no ministério eclesiástico.
Certa vez, Martinho Lutero foi abordado por um homem que acabará de se converter. Desejando desesperadamente servir ao Senhor, ele perguntou a Lutero:
“O que devo fazer agora?”
Lutero respondeu: “Atualmente, qual é sua profissão?”.
“Sou um sapateiro”.
Para surpresa dele, Lutero respondeu: “Então faça um bom sapato e venda por um preço justo”.
Fica evidente a dificuldade na compreensão deste princípio bíblico em uma geração (contemporânea) ávida pela exposição publica ministerial, onde a ideia é de que todos devem ser apóstolos, pastores, ou possuir algum tipo de poder supra-humano.
Porém, a verdade eterna de Deus permanece afirmando que, nem todos cristãos foram chamados ao pastorado, mas todos convocados para uma vida piedosa, nem todos serão profetas, mas todos discípulos de Cristo, nem todos se tornarão evangelistas, mas todos deverão anunciar as boas novas de salvação, nem todos serão mestres, mas todos manifestação o conhecimento do evangelho, e por fim, nem todos serão chamados apóstolos, mas “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;” (João 1.12)
Sendo assim, melhor é terminar a caminhada cristã sendo salvo em Cristo Jesus, sem nunca ter sido pastor ou apóstolo, do que, ingressar no ministério sem ter sido chamado por Deus e terminar a carreira como um obreiro reprovado e relativizado na fé e na esperança.
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Samuel Torralbo é pastor, parceiro e colunista do Púlpito Cristão.