Telhada, que irá se aposentar do próximo dia 18/11, possui 29 processos por homicídio, com 36 mortes no exercício da função, e 80 elogios dos superiores em sua ficha. “Mas não tenho o sangue de nenhum inocente nas mãos”, afirma Telhada, que mantém a mesma simplicidade ao cumprimentar: “A Paz de Deus, irmão”.
Em 1979, segundo informações do jornal “O Estado de S. Paulo”, quando Paulo entrou para a polícia, sabia que poderia matar alguém. O Brasil ainda vivia a ditadura militar e eram tempos em que a tensão nas ruas era outra, diferente. Preocupado, ele procurou seu líder na Congregação Cristã no Brasil, para se aconselhar: “a porta que Deus abre, ninguém fecha. E a porta que Ele fecha, ninguém abre”, foi o conselho do Ancião.
O “irmão Paulo” como é conhecido em sua congregação, sabe que os conselhos de 33 anos atrás se mostraram certos. Em 1983, quando se formou na academia da Polícia Militar, passou a colecionar datas marcantes de sua carreira.
Em Junho de 1986, entrou para as “Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar”, a ROTA, a mais temida equipe de policiamento de São Paulo, após sua equipe ter matado dois bandidos e prendido outros dois, libertando onze reféns que estavam em cativeiro. Nessa época, por falta de recursos, a ROTA possuía apenas três viaturas.
“Sou um para-raio. Tudo acontece comigo”, afirma o tenente-coronel, que lembra cada circunstância de confronto. Em Setembro de 1988, trocou tiros com um ladrão que havia roubado um taxi e o matou: “Ele reagiu e morreu”, conta tranquilo. A Justiça arquivou 19 processos contra Telhada e o absolveu nos outros. “Não mereço essa fama. Não sou pistoleiro”, conta ele, que ficou “famoso” justamente por se envolver em sete casos com morte em 1989 e outros cinco em 1990, ano em que tomou o primeiro tiro, no braço, em um tiroteio com bandidos.
Único oficial da PM de São Paulo a ter a Cruz de Mérito Pessoal de Ouro, Telhada foi transferido 28 vezes, e foi preso outras oito por descumprir o regulamento interno da corporação. Isso, além da coleção de outras medalhas conquistadas por sua dedicação ao trabalho.
Ele conta que viveu experiências sobrenaturais nos anos de trabalho como policial. Um dia, em perseguição a bandidos na zona norte da capital paulista, atingiu e socorreu um dos envolvidos: “Subimos no canteiro central. Quando descemos, estávamos do lado deles”. Após a reação do bandido, que atirou contra os policiais, Telhada conta que fez o possível para detê-lo: “eu pensei: ‘Ele não vai escapar’. Eu olhava para o lado e via o Gomes, meu parceiro. Quando cheguei, vi o Gomes baleado e perguntei: ‘Quando isso ocorreu se você estava do meu lado o tempo todo?’ E ele me respondeu: ‘Se o senhor me viu, não era eu. Era um anjo que estava ao seu lado’. A Bíblia diz que o Senhor acampa seus anjos ao redor daquele que Ele ama. Naquele dia, um anjo do Senhor estava ao meu lado”.
Quando levou o segundo tiro em confronto com bandidos, uma confusão quase o fez perder o movimento da mão direita. “Não atirei. Não sabia se era um bandido ou se era um mendigo. Segurei o cano de sua arma e ele o da minha. Rolamos no chão, e ele acertou a minha mão. Ele se assustou e eu atirei quatro vezes”.
Afastado das ruas para tratamento psicológico, um coronel o procurou e disse: “Telhada, você é um homem perigoso. Onde você chega, a tropa fica ouriçada e começa a trabalhar”. Em 2004, quase foi expulso da polícia, sob acusação de fazer bico como segurança do apresentador Gugu: “Sempre fiz bico, mas não sou ladrão nem vagabundo”, conta.
Em 2009, uma mudança na Secretaria de Segurança Pública, fez com que o Telhada fosse colocado como Comandante da Rota. “Você pode elevar ou acabar com o nosso comando. Depende de sua atitude” falou o novo secretário, Antonio Ferreira Pinto. De lá para cá, a ROTA tem sido bastante assertiva no combate ao crime organizado, recebendo muitos elogios. O secretário, convencido de que fez a melhor escolha, conta: “Foi um grande acerto”.
Em 2010, outro milagre, ao sobreviver ao atentado em que bandidos dispararam contra ele onze vezes, e erraram todas. Agora, por força da lei, terá que se aposentar. Seu filho, tente Rafael Telhada, com 25 anos de idade, continuará a história da família na PM: Rafael já se envolveu em dois tiroteios com morte. O pai, afirma que vai lançar um livro e que vai sentir saudade: “Adoro isso aqui. Vou lançar um livro sobre a ROTA e, talvez, entrar para a política. Não convivo com fantasmas. Quem gosta de matar, tem de se tratar. Tive ótimos policiais que acabaram vendo fantasmas, acabaram na sarjeta, na bebida”.
Fonte: Gospel+
0 comentários:
Postar um comentário