Uma autora evangélica acredita que seu livro de memórias está sendo boicotado por uma grande cadeia de livrarias cristãs dos EUA, porque inclui a palavra “vagina”.
O segundo livro de Evans, A Year of Biblical Womanhood [Vivendo um ano pelos princípios da Bíblia para as mulheres], relata como ela viveu durante um ano inteiro seguindo as instruções da Bíblia do modo mais literal possível. Isso incluía chamar o seu marido de “senhor” e acampar no jardim durante os períodos de menstruação.
Ao longo do livro, ela usa a palavra “vagina” duas vezes: ao descrever o estupro de uma adolescente do Congo, e quando lembra a decisão de assinar um compromisso de abstinência quando tinha 15 anos.
“Eu usei a parte de trás da minha cadeira de metal para escrever meu nome naquela linha pontilhada antes de marchar até a frente da sala e prender em um quadro de cortiça gigante onde todos podiam ver a minha promessa a Deus e à minha vagina”.
Ela disse que só percebeu que poderia ser um problema usar essa palavra no início do ano, quando foi informada pela sua editora, Thomas Nelson, que ela não devia usá-la no segundo relato, pois as livrarias cristãs “aparentemente têm alguma coisa contra a vagina”.
“Eu dei um piti ao ouvir isso e disse que, se as livrarias cristãs ficarem presas aos seus próprios padrões ridículos, não poderiam sequer vender a Bíblia”, escreveu ela em seu blog.
“Eu digo a todos que eu vou lutar por meus princípios, mas vou ceder dentro de alguns dias, porque eu quero que as livrarias cristãs vendam uma versão censurada do meu livro… porque eu quero ganhar um monte de dinheiro… porque precisamos, a quatro anos, de um telhado novo em nossa casa e porque eu realmente quero ter um Mac, assim serei aceita pelas megaigrejas. Eu me sinto uma fraude… O mais frustrante disso, é claro, é que posso usar a palavra ‘vagina’ quando envolve estupro, mas eu não posso falar sobre ‘vagina’ quando o contexto envolve certo grau de propriedade e poder sobre meu próprio corpo”.
Alguns partidários reuniram-se para defender a sua causa, fizeram inclusive uma petição ao site Amazon. Camisetas com os dizeres “Equipe da Vagina” foram feitas. Até que Evans decidiu pedir que seu editor colocasse o termo “vagina” de novo em seu livro de memórias. “Achei que era mais importante ouvir as vozes de um público apaixonado do que as objeções da indústria cristã”, disse ela no blog.
O lançamento do livro será dia 30 de outubro, mas Evans já sabe que a empresa LifeWay, que tem 160 livrarias cristãs espalhadas pelos EUA não venderá o livro.
“Recebi recentemente um aviso que a LifeWay decidiu não vender meu livro em suas lojas, presumivelmente, por causa da controvérsia sobre o uso do termo “vagina”, escreveu Evans em sua página.
“Estou decepcionada, é claro, não apenas porque eu vou deixar de vender. A LifeWay certamente tem todo o direito de escolher os títulos que deseja vender, mas eu acho que essa ideia que os cristãos devem tomar cuidado ao pensar sobre a realidade, que devemos usar eufemismos e só contar histórias confortáveis e higienizadas, é uma percepção destrutiva que afeta profundamente a cultura evangélica como um todo”.
Em entrevista ao site da revista eletrônica Slate, nesta terça-feira, Evans mostrou-se contrariada pela decisão da LifeWay: “Eu não sei se eles ficaram mais ofendidos pela minha vagina ou pelo meu cérebro”.
Um porta-voz da LifeWay disse a Slate: “Nós selecionamos recursos que suprem as expectativas de nossos clientes usando como base várias questões, incluindo o alinhamento do conteúdo com as crenças evangélicas, os valores e a visão da LifeWay. Também consideramos as vendas passadas de um autor”, enfatizando que o primeiro livro de Evans, Evolving in Monkey Town [Evoluindo na Cidade dos Macacos], não vendeu bem.
Traduzido de Guardian
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